domingo, 23 de janeiro de 2011

Os conceitos Língua Materna, Segunda Língua e Língua Estrangeira e os falantes de línguas alóctones minoritárias no Sul do Brasil



imagem daqui.

"4 - Os conceitos
Diferentemente dos conceitos “Segunda Língua” e “Língua Estrangeira”, o conceito "Língua Materna” é tratado, pela maioria dos autores, como uma denominação um tanto óbvia. Esse deve ser realmente de mais fácil denominação que os outros, porém pouco se encontram definições para o termo. Uma descrição simples e direta, contudo antiga, encontrada nas pesquisas foi a de MUES (1970) no livro Sprache: Was ist das? (“Língua: o que é isso?”): “Muttersprache ist die Sprache, die jeder Mensch als erste lernt und die somit die Grundlage seines Menschwerdens ist”.(1)

Essa definição é um tanto antiga e, por isso, cheia de lacunas, mas apresenta dois
fatores importantes: a justaposição com o conceito “Primeira Língua” e o fator identitário que carrega – a pessoa se identifica de alguma forma com a Língua Materna. A aquisição da Primeira Língua, ou da Língua Materna, é uma parte integrante da formação do conhecimento de mundo do indivíduo, pois junto à competência lingüística se adquirem também os valores pessoais e sociais. A Língua
Materna caracteriza, geralmente, a origem e é usada, na maioria das vezes, no dia-adia.

A Língua Materna, ou a Primeira Língua (L1) não é, necessariamente, a língua da mãe, nem a primeira língua que se aprende. Tão pouco trata-se de apenas uma língua. Normalmente é a língua que aprendemos primeiro e em casa, através do pais, e também é freqüentemente a língua da comunidade. Entretanto, muitos outros aspectos lingüísticos e não-lingüísticos estão ligados à definição. A língua dos pais pode não ser a língua da comunidade, e, ao aprender as duas, o indivíduo passa a ter mais de uma L1 (caso de bilingüismo). Uma criança pode, portanto, adquirir uma língua que não é falada em casa, e ambas valem como L1.

A título de ilustração: uma criança nasce e cresce na Alemanha, filha de um francês com uma colombiana. Se com cada um dos pais ela se comunica nas suas línguas respectivas, e na creche, na rua, com os amigos e vizinhos o alemão é a língua diária, essa criança tem, claramente, três línguas maternas: francês, espanhol e alemão. A ordem, nesse caso, não interessa muito, pois “... auch eine leichte Verspätung bei dem Erwerb einer Sprache bis in das 2. und 3. Lebensjahr gilt noch
als ‚gleichzeitiger’ Erwerb, denn die relative Verspätung wird in der Regel rasch
aufgeholt”.

De forma geral, contudo, a caracterização de uma Língua Materna como tal só se dá se combinarmos vários fatores e todos eles forem levados em consideração: a língua da mãe, a língua do pai, a língua dos outros familiares, a língua da comunidade, a língua adquirida por primeiro, a língua com a qual se estabelece uma relação afetiva, a língua do dia-a-dia, a língua predominante na sociedade, a de melhor status para o indivíduo, a que ele melhor domina, língua com a qual ele se sente mais a vontade... Todos esses são aspectos decisivos para definir uma L1 como tal.
Se a criança citada acima, agora com 5 anos de idade, se muda para a Inglaterra e começa a adquirir o inglês para poder comunicar-se bem e integrar-se, enquanto ele estiver na Inglaterra, teríamos um caso de Segunda Língua.

A L1 é caracterizada pelo fato de que a criança a aprende “scheinbar mühelos, allmählich und automatisch im Einklang mit der geistigen und körperlichen Entwicklung erwirbt”. A aquisição de uma Segunda Língua (L2 ou SL ), por sua vez, se dá, quando o indivíduo já domina em parte ou totalmente a(s) sua(s) L1, ou seja, quando ele já está em um estágio avançado da aquisição de sua Língua Materna.

Segundo uma velha teoria neurolingüística, defendida e difundida principalmente por LENNEBERG (1967) , deve haver um determinado espaço temporal, no qual a aquisição ocorre de forma mais fácil e mais eficaz. O chamado “período crítico” (critical period) estaria ligado ao desenvolvimento do cérebro e ao processo de lateralização. O seu encerramento seria também o encerramento desse período.

Durante esse período, qualquer língua adquirida teria o status de L1. A teoria, no entanto, não se comprovou, pois não se conseguiu demonstrar que seria mais fácil aprender uma língua de forma geral antes da puberdade, nem determinar quando começaria e quando terminaria o período crítico.

Afirma-se, de forma geral, que línguas adquiridas ainda cedo são dominadas como L1 – mas desde que aquelas desempenhem uma função semelhante à desta."

(1) tradução livre "língua materna é o idioma que todos aprendem em primeiro lugar e, assim, a base de seu devir humano"

in: www.revistacontingentia.com | Karen Pupp Spinassé
Revista Contingentia, 2006,Vol. 1, novembro 2006. 01–10 5
© Revista Contingentia ISSN 1980-7589

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