sábado, 22 de dezembro de 2012

Ter de ... ter que...

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Pode ver os textos "Melhor que possuir" de Kevin Kelly aqui. 
e um comentário in PdBranding aqui


O texto seguinte foi retirado do site: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Ver o site aqui.

 

Dúvidas sobre o «ter de» e o «ter que»


[Pergunta] Eu tenho mesmo de deixar aqui um breve comentário sobre esta coisa! Na realidade nem os mais doutos que se propõem ensinar o bom português têm o cuidado de conjugar devidamente o ter de. Para ser franco começo mesmo a duvidar sobre a forma correcta.
Por favor ajudem-me!

Cláudio Sousa :: :: Portugal

[Resposta] Utilizar a construção «ter que» em vez de «ter de» é, efectivamente, uma incorrecção muito vulgar. E de tanto se ouvir e ver escrita, pode acontecer até que alguém que domine a língua cometa essa incorrecção. Não foi o caso do consulente, que utilizou adequadamente a construção «ter de», já que quis dizer «vejo-me na obrigação de», «assumo o dever de».
No Ciberdúvidas há já várias respostas sobre este assunto [Os erros de Marcelo, Ainda os erros de Marcelo, Ter que e ter de, Ter que e ter de]. No entanto, como o consulente pretende um texto que afaste completamente as suas dúvidas, vou proceder a uma sistematização.
1. Ter de
Ter de é uma expressão utilizada quando se pretende dizer que se tem o desejo, a necessidade, a obrigação ou o dever em relação a uma qualquer acção: «tenho de me ir embora» (= sou obrigado a ir-me embora, devo ir-me embora, tenho necessidade de me ir embora), «ele tem de arrumar o quarto» (= ele deve arrumar, tem o dever de arrumar o quarto), «temos de nos ouvir uns aos outros» (= temos o dever ou a obrigação de nos ouvir).
Nesta situação, o verbo «ter» é um verbo auxiliar da conjugação perifrástica: auxiliar ter + preposição de + verbo no infinitivo. Assim, «ter de», por si só, significa «ter necessidade de», «precisar de», «ser obrigado a», «dever», designando, pois, a necessidade de praticar a acção expressa pelo verbo que se segue, que é o verbo principal.
2. Ter que
Nesta situação, o verbo «ter» não é um auxiliar; é um verbo com a plena significação de «possuir», «ser detentor de», «estar na posse de», «desfrutar», «usufruir», «poder dispor de».
Por exemplo, se alguém quiser dizer que «tem muito trabalho», poderá utilizar a expressão «que fazer» para substituir a palavra «trabalho»: «Tenho muito que fazer.» Do mesmo modo, se quiser dizer que tem uma série de histórias ou aventuras para nos contar, pode utilizar a expressão «que contar» para referir esse conjunto de relatos: «Ele viveu muito, tem muito que contar.» Se quiser, ainda, dizer que tem em casa muita matéria para estudar, assuntos sobre os quais se debruçar, poderá utilizar a expressão «que estudar»: «Tenho tanto que estudar!» E também podem surgir frases sem esse antecedente, subentendendo-se «coisas», «alguma coisa», «algo» (na negativa, «nada») a que o relativo se refira: «ele não tem que fazer» (= não tem coisas que fazer, não tem nada que fazer), «ele não tem que comer» (= não tem nada que comer), «ele não vai ter que dizer» (= não vai ter nada que dizer).
Por outro lado, esses sintagmas «que fazer», «que contar», «que estudar», «que comer», «que dizer» assumem, pois, força substantiva, como se pudessem ser substituídos por «trabalho» ou «afazeres», «relatos», «estudo», «comida», «palavras», etc.: «ele tem que fazer» = ele tem trabalho, tem afazeres; «ele tem que comer» = ele tem comida; «ele não tem que dizer» = ele não tem palavras. E entre o verbo «ter» e o pronome relativo «que» poderá ser colocado um indefinido (tanto, muito, pouco).
3. Ter de distingue-se, pois, de ter que, porque no primeiro caso está presente a ideia da obrigação, da necessidade, do dever, enquanto no segundo está presente a de dar uma informação sobre o que o emissor possui ou tem em mãos.

Vou construir duas frases semelhantes, em que apenas substituo a preposição «de» pelo pronome relativo «que», de modo a mostrar como o sentido é diferente.

a) «Ele não vai sair, porque tem de estudar.» – Com esta construção pretende dizer-se que ele precisa de estudar, deve estudar, tem a obrigação ou a necessidade de estudar, está obrigado a estudar; e a necessidade de estudar impede-o de sair.

b) «Ele não vai sair, porque tem que estudar.» – Com esta construção pretende dizer-se que ele tem matéria para estudar. Não é do dever de estudar que se pretende falar, mas da quantidade de estudo que há para fazer. Não é o dever de estudar que o impede de sair, mas a quantidade desse estudo: não é o que «deve», aquilo de que «precisa», mas o que «tem», o que «possui».

M.R.M.R. :: 09/05/2005

domingo, 11 de novembro de 2012

Há donos da língua! *


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Ver ainda aqui.

(*) Crónica de Alberto Oliveira Pinto publicada no  Mensário Angolano de Cultura "O CHÁ
Número 2 - 2ª série | Ano 1 - Setembro 2012 | Director: Jacques Arlindo dos Santos

Em 1934, na Exposição Colonial do Porto, foi exibido um mapa, cuja autoria era atribuída a Henrique Galvão, onde se mostrava a Europa polvilhada pelas então colónias portuguesas: a Galiza, parte da Estremadura Espanhola e a Andaluzia encontravam‑se cobertas pela Guiné, por Timor e pelos arquipélagos  dos Açores, Madeira, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe; Moçambique preenchia os territórios da  Estanha, da França, da  Suíça, da Áustria e da Itália; Angola, por sua vez, ocupava os espaços geográficos da Alemanha, da Polónia, da Checoslováquia, da Hungria, da Jugoslávia e da Roménia. No cabeçalho
deste mapa, proclamava‑se em caixa alta: “PORTUGAL NÃO É UM PAÍS PEQUENO”.

Em 1972, quando fiz a minha 4ª classe, a dois anos do golpe de Estado de 25 de Abril de 1974 e a três da  independência de Angola, o discurso colonial português já havia sido objecto de múltiplas maquilhagens. Se, com a revisão constitucional luso‑tropicalista de 1951, as “colónias” haviam retomado a designação  oitocentista de “províncias ultramarinas”, com a revisão constitucional falaciosa de 1971 ‑ que procurava,  tardia e artificiosamente, imitar uma certa França de De Gaulle de entre 1958 e 1960, fingindo lançar os  alicerces de uma inviável e inconcebível confederação das colónias portuguesas ‑ as duas maiores  possessões coloniais portuguesas do continente africano, Angola e Moçambique, passaram a ser oficialmente designadas por Estados. Contudo, embora nem a minha professora primária nem nenhum de nós, seus alunos, tivéssemos tido acesso ao mapa de 1934 que proclamava que “PORTUGAL NÃO É
UM PAÍS PEQUENO”, a mensagem que os professores se viam obrigados a transmitir e os alunos a assimilar ainda era, em 1972, exactamente essa dos anos de 1930, sem mudar nem uma vírgula.

E não foram poucas as pessoas que, em Portugal, a três anos da Independência efectiva de Angola, se indignaram com a ideia de se dizer Estado de Angola e Estado de Moçambique porque, alegavam, isso já “cheirava” a Independência.  Acrescentavam, aliás, bradando aos céus, que, ao contrário do que, numa hipocrisia paternalista que ainda hoje se mantém, apregoavam em relação ao Brasil, se “correria o risco” de em Angola e Moçambique, uma vez independentes, se virem a falar outras línguas que não o português. Mal suspeitava a criança de dez anos que eu era que se encontrava perante o sémen daquilo a que Alfredo Margarido viria inteligentemente a chamar o “estrume teórico” da “lusofonia”, no qual nos encontramos atolados até hoje e de que o vergonhoso Acordo Ortográfico tem sido o exemplo mais flagrante. Três anos depois, ao longo de todo o ano de 1975, a mesma criança, agora com treze anos de idade, viria a assistir pela televisão aos discursos dos líderes independentistas, ao tornarem‑se chefes de Estado, todos sublinhando – excepto Agostinho Neto, que nem teve tempo para isso – que a língua oficial dos “novos países”, a cujos destinos presidiam, seria o português.

E todos os políticos portugueses, de todos os quadrantes ideológicos, assim como uma elevada percentagem dos cidadãos da antiga metrópole, regozijaram‑se por esse facto. Todos? Não. Houve excepções. 

Recordo‑me de Francisco Salgado Zenha, um brilhante e saudoso ministro dos governos provisórios, ter afirmado peremptoriamente,mais do que uma vez: “os povos dos países independentes falam a língua que bem entenderem e ninguém os obriga a falar a nossa” (Sic.). Mas Salgado Zenha, infelizmente, pregava
no deserto. A mentalidade da maioria dos seus compatriotas – e subsiste actualmente, passados quase quarenta anos – era a de que Portugal, sendo agora um país pequeno, poderia conservar a sua “grandeza”  através da língua. Como muito bem o escreveu Alfredo Margarido, os portugueses descobriram uma  "prótese” que compensaria o sentimento de amputação do Império. E essa “prótese” viria pouco tempo depois a ser baptizada, pelo malogrado professor Carmo Vaz, com um nome pomposo: “lusofonia”.
Os povos continuaram a desconhecer‑se, enquanto em Portugal os diversos poderes políticos, que se foram sucedendo ao longo da ainda hoje vigente 3ª República, não cessaram de ulular patranhas estafadas tais  como “existe uma história comum entre nós e os PALOP” ou “os portugueses conhecem a África melhor do que ninguém”. Instituições culturais portuguesas organizavam viagens turísticas às antigas colónias
– excepto a Angola, a pretexto de que se “encontrava em guerra” – com a finalidade única de (re) visitar…
“vestígios portugueses”! Esta burguesia néscia e desprovida de imaginação vangloriava‑se de ter  reencontrado intactas igrejas e fortificações “portuguesas” no Brasil, em Moçambique, em Goa ou em Macau, assim como se envaidecia, de modo pusilânime, pelo facto de estes povos não europeus falarem… português!
 
Contudo uma minoria, na qual eu próprio, entretanto adulto, me incluía, indagava‑se: que tem isso de especial? É óbvio que há “vestígios portugueses” nas antigas colónias, pois Portugal foi colonizador e a  memória do facto colonial, ainda que tenazmente silenciada pelos poderes políticos e pelos interesses económicos, não cessa com as chamadas “descolonizações”. 

Mas o que é feito dos “vestígios” não portugueses? Esses é que interessam verdadeiramente! Por exemplo, que outras línguas são faladas, sem ser o português, nos países ditos de “língua portuguesa”? Em meados da década de 1990, às vésperas da institucionalização da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o meu amigo Ismael Mateus escrevia, e muito bem, que o fundamental na chamada “lusofonia” era conhecermo‑nos e respeitamo‑nos uns aos outros naquilo que temos de diferente e não naquilo que temos  em comum. É com o mesmo espírito com que Ismael Mateus escreveu essa crónica há cerca de quinze anos que agora redijo estas linhas. Há que intensificar e alimentar o diferente e não o comum, e urge cortar cerce as tentações saudosistas e os embustes identitários.

Retomemos o exemplo da língua, do qual a ortografia tem sido, nos últimos tempos, a componente aparentemente mais manipulável pelas mentes perversas. O essencial é, desde já, empenharmo‑nos no sentido de que venham a existir, pelo menos, oito idiomas diferentes que partem do português, e não oito centros de imposição neo‑colonial da língua portuguesa. Aliás – pondo, à partida, de lado o caso de Timor‑Lorosai, cuja língua nacional, o tétum, é um idioma austronésio, que não radica no português ‑, podemos adiantar que quatro dos oito países ditos de “língua portuguesa” já têm há muito tempo línguas  lutónomas.

Referimo‑nos, quer à língua brasileira, quer aos chamados “crioulos” de Cabo Verde, Guiné, e São Tomé e Príncipe. São línguas que derivam do português, é verdade, mas são outras línguas. Têm variantes ou  dialectos, evidentemente, e é desejável que assim seja. Ferdinand de Saussure conseguiu demonstrar que basta que uma língua seja falada a uma simples distância de cinco quilómetros para que surjam variantes. Entre a Galiza e o Algarve, o português de Portugal tem inúmeras variantes dialectais consoante as regiões. E o autor destas linhas, filho de pai duriense e de mãe alentejana, é um produto e uma testemunha privilegiada desse fenómeno. Restam‑nos Angola, Moçambique e Portugal. 

Abstenho‑me, neste momento, de abordar as questões relativas às chamadas “línguas nacionais”, na maioria bantu, de Angola e de  Moçambique, que já tive oportunidade – e continuarei a tê‑la, espero – de desenvolver noutros lugares. Consideramos apenas o(s) “portuguê(eses) falado(s)”, quer em Angola, quer em Moçambique, quer em  Portugal. Que dizer deles? Desde logo, bradar alto e bom som o enunciado de Alfredo Margarido: a língua é de quem a fala! No entanto, entendo que há algo mais a acrescentar, uma vez que, nos últimos anos, o  inteligente postulado do meu saudoso professor prestou‑se a deturpações perversas que viabilizaram um lugar‑comum enganoso, falacioso e embusteiro: “não há donos da língua”. Em meu entender, é este o preconceito (neo‑colonial) que urge quebrar. É que há donos da língua! 

Os angolanos são donos do português falado e escrito em Angola, assim como os moçambicanos o são do falado e escrito em Moçambique e os portugueses do falado e escrito em Portugal. Portanto, qualquer iniciativa, ortográfica ou outra, que vise “unificar” as línguas que se falam nesses países é, inevitavelmente, um acto neo‑colonial – de ressurreição do Império, de aplicação da “prótese” de que falava Alfredo Margarido, a “prótese” dos (pre) conceitos segundo os quais “Portugal não é um país pequeno” ou de que “Portugal vai do Minho a Timor” ‑, mesmo que a hegemonia desse “imperialismo cultural” não caiba agora ao antigo colonizador, Portugal, e sim a qualquer antiga colónia politica e economicamente emergente, como parece ser, de momento, o caso do  Brasil.

Lamentavelmente, a CPLP, que deveria ser a salvaguarda das diferenças, tem sido o principal agente desta operação de neo‑colonialismo cultural. Para isso muito contribui o facto de se tratar de uma organização de governos de circunstância, que servem interesses privados – “sem cor nem rosto”, como noutros tempos cantava Santocas ‑, e não de Estados, pelo que os povos acabam por não se rever nela. E os povos é que  são os verdadeiros soberanos da sua própria memória e do seu património.

Cabe, pois, às sociedades civis dos nossos países, a sua preservação e, consequentemente, o exercício da  soberania sobre os desígnios da CPLP, sem o que instituições deste género não têm a menor razão de existir.

domingo, 4 de novembro de 2012

A Língua Portuguesa em Angola Um Contributo para o Estudo da sua Nacionalização - Domingos Nzau -

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Resumo
O desenvolvimento de uma investigação sobre um país como Angola reveste-se de alguns aspectos muito particulares não só pela vastidão geográfica, como, de igual modo, pela diversidade cultural, linguística e histórica de que é portador, onde línguas e culturas de origem africana e europeia se entrecruzam, tentando, em simultâneo, delimitar espaços e mentalidades. Pretendendo encontrar soluções advindas desta problemática, vários trabalhos têm vindo a lume, no sentido de proporem caminhos considerados mais adequados em prol de uma sã harmonia.

Nesta perspectiva, a abordagem da temática linguística angolana sugere alguma prudência: primeiro, por ser uma área sensível que envolve questões de identidade individual ou colectiva; segundo, por se tratar de uma sociedade de tipo pluralista, onde coabitam povos com línguas e culturas próprias e, consequentemente, indivíduos que tentam manter as suas identidades. No seio desta osmose cultural e linguística se vem realizando a língua portuguesa, que, desde a sua introdução no século XV, passando pela proclamação como língua oficial em 1975, até à actualidade, tem vindo  a conhecer um processo de expansão territorial, com dinâmicas de contornos algo irreversíveis. Em consequência do processo expansional, observa-se a acentuação do contacto da mesma língua com indivíduos residentes em zonas outrora de “exclusividade” das denominadas línguas nacionais de origem africana, tendo como efeito um aumento galopante do número de falantes maternos e não maternos.

Perante as evidências, numa altura em que se perspectiva o futuro da “nação” angolana através de distintas iniciativas políticas, sociais, académicas e outras, envolvendo entidades específicas, problematizar os mitos que ainda pairam sobre o passado e o presente da língua portuguesa, visando perspectivar o seu futuro, não é apenas legítimo e imperioso, como é, igualmente, desafiador. O percurso para a materialização do desafio gira, assim, em torno de quatro questões centrais: nacionalização da língua portuguesa, democratização de ensino (bilinguismo), consciência de assunção e distribuição da frequência do seu uso.

Deste modo, antes de partirmos para a análise baseada em métodos quantitativos e qualitativos, propusemos, como ponto de partida, por um lado a problemática das etnicidades angolanas e a relação estabelecida entre língua e sociedade, tendo como pano de fundo o exame do panorama linguístico angolano e as funções da língua portuguesa em Angola respectivamente, e, por outro a trajectória da língua portuguesa em busca da nacionalização. 

Constatamos, ainda que os resultados suscitem prudência quanto a generalizações em termos nacionais, a existência de um processo em curso, que pode emergir na nacionalização da língua portuguesa a curto, médio ou longo prazo. Tal constatação deriva do facto de os resultados fornecidos pela empiria revelarem uma clara tendência de assunção da língua portuguesa, a par de uma frequência cada vez mais generalizada do uso desta, assim como de uma consciência de cooperação recíproca entre esta e as suas congéneres de origem africana. 

Finalmente, propomos para investigações futuras a confirmação da tendência anunciada, com recurso à investigação empírica mais abrangente, de maior representatividade nacional, albergando, em proporcionalidade, não apenas falantes de língua portuguesa em situação de língua materna ou segunda, mas, de igual modo, as duas principais zonas habitacionais da população angolana: zona rural e urbana. 



(...)
Introdução
A problemática da investigação

A escolha do título “A Língua Portuguesa em Angola: um Contributo para o Estudo da sua Nacionalização” para designarmos a nossa investigação não é inocente. Com efeito, ela resulta do desafio de querermos ser também partícipes duma discussão em crescendo desde a década de 80 do século XX, porém mais vincadamente a partir da década de 90, sobre a questão da nacionalização da língua portuguesa. Tal discussão procura problematizar se se pode reconhecer à língua portuguesa o estatuto de língua nacional e não apenas língua oficial e veicular como, de resto, é habitual designá-la, ou se, pelo contrário, se deve reservar o estatuto “nacional” apenas às línguas de origem africana. Estamos, pois, perante uma temática pertinente - tal como são as questões relacionadas com o modelo organizacional que melhor se adequa à realidade angolana, as questões de interesse económico e a valorização dos padrões de referência e de unidade nacional  – apesar do seu carácter sensível, por envolver sentimentos de identidade.

Ver tese integral aqui.



RCAAP – REPOSITÓRIO CIENTÍFICO DE ACESSO ABERTO DE PORTUGAL

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O RCAAP é um portal agregador (meta-repositório) dos documentos depositados nos vários repositórios institucionais existentes em Portugal e no Brasil. No RCAAP são reunidos e indexados não só a descrição (metadados) mas também o texto integral.

Ver aqui:  http://projecto.rcaap.pt/



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Falar é mais do que comunicar."


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ZWELANDO PARA UNIR - António Quino(*)

Para a comunidade linguística Bantu, da qual é maioritariamente originária a população Angolana, a língua tem um sentido especial.

De acordo com o padre Raul Altuna, a civilização negro-africana legou ao angolano a tradição oral, onde “a palavra é a pessoa”, por ser o maior instrumento do pensamento, da emotividade e da acção do ser africano. Raul Altuna refere que “a tradição oral não é apenas fonte principal de comunicação cultural”.

Aliás, a língua é uma das bases da integração social do homem Bantu. Ela é de vital utilidade nestas comunidades em que a oralidade chega a substituir os meios de comunicação mais modernos, como a imprensa, rádio e televisão, pois, como aludiu Óscar Ribas, os textos orais são como provérbios, adivinhas, contos, divisas, nomes pessoais, etc., e estão ao serviço da memória colectiva e da transmissão da   experiência do grupo.

Por causa da importância da oralidade, a tradição Bantu leva-nos a afirmar que os contos e as lendas são autênticos museus, monumentos, cartazes de rua e livros. Ou seja, a língua, além de instrumento de socialização e de comunicação, é também a guardiã duma imensa riqueza cultural produzida pelos nossos ancestrais.

Para as populações da comunidade linguística Bantu, saber falar e usar a palavra certa em dados momentos é uma virtude de valor incomparável. Raul Altuna conta que “O curandeiro e o adivinho conhecem as palavras apropriadas para pôr em movimento a interacção vital em favor do seu cliente, atraem ou acalmam os antepassados ou conseguem que seja aceite o sacrifício”. 

A palavra está sempre ali onde a comunidade precisa dela. Através da língua podemos penetrar fielmente no pensamento da civilização negro-africana. Falar é mais do que comunicar. 

Mesmo falando-se, frequentemente, na tradução das lendas, contos, adivinhas, poesia e outras manifestações da tradição para se interpretar determinadas culturas, ou procurarmos traduzir o nosso pensamento numa língua segunda, a verdade é que os perigos são imensos. E um dos grandes perigos, segundo o linguista André Martinet, “reside na tentação de interpretar a língua descrita em função da língua para a qual se traduz”. E se considerarmos que a tradição oral é uma cultura própria e autêntica porque abarca todos os aspectos da vida, iremos perceber melhor por que se torna tão importante preservar as nossas Línguas Africanas de Angola, também designadas Línguas Nacionais.

Texto retirado do Número 2 - 2ª série | Ano 1 - Setembro 2012 do Mensário Angolano "O CHÁ" Director: Jacques Arlindo dos Santos (ver aqui.) 

(*) António Quino é licenciado em Ciências da Educação e Mestre em Ensino de Literaturas em Língua Portuguesa. Jornalista desde 1990, foi co-fundador do “Jornal Farol”, da Brigada Jovens de Literatura do Namibe.
Enquanto académico, tem participado em vários eventos científicos nacionais e internacionais. É membro do colégio de estudos literários do Instituto Superior de Ciência de Educação (ISCED)-Luanda e do secretariado da Kulonga, revista de Ciências da Educação e Estudos Multidisciplinares do ISCED-Luanda, onde publicou textos nos “Cadernos de Estudos Literários e Linguísticos”.
Tem ensaios publicados na Revista “Maka”, da União dos Escritores Angolanos, Jornal de Angola, semanários “Angolense”, “O País” e “Folha 8” e, fora de Angola em colectâneas.
António Quino é director provincial da Comunicação Social do Bengo.




domingo, 21 de outubro de 2012

Angola e as Retóricas Coloniais - Alberto Oliveira Pinto* - Lançamento 25 de outubro de 2012 na Sede da CPLP**

(**) Sede da CPLP - Palácio Conde de Penafiel (Rua de S. Mamede - ao Caldas - n.º 21 em Lisboa
Ver aqui localização.

"Angola e as Retóricas Coloniais reúne parte das intervenções - ensaios, comunicações, artigos, conferências - que o autor realizou durante cerca de uma década e que vieram a preparar a sua tese de Doutoramento em história de África, Representações Coloniais de Angola e dos Angolanos e suas Culturas (1924 - 1939), defendida na faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 2010 e publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2012.

Embora todos os estudos aqui seleccionados visem teorizar sobre as representações do “Outro” na retórica, preferencialmente literária, legitimadora do facto colonial, nem todos têm por objecto a análise de obras literárias, além de não se restringirem, nem a autores coloniais portugueses, nem ao caso angolano.

Analisam-se inicialmente duas obras de ficção da literatura europeia do século XIX, uma de Júlio Verne, outra de Emílio Salgari, versando sobre Angola, além de duas obras de banda desenhada do século XX,  uma de Hergé, outra de Jacques Martin, tendo esta última como pano de fundo o que poderiam ter sido Angola e Congo na Antiguidade Clássica. Reflecte-se também sobre os motivos pelos quais o poder colonial erigiu em Luanda, no século XIX, as estátuas de Pedro Alexandrino da Cunha e de Salvador  Correia de Sá, além de se proceder a uma abordagem geral sobre a instituição do Concurso de Literatura Colonial da Agência Geral das Colónias em 1926, ou seja, de como emergiu efectivamente a literatura colonial portuguesa. Confrontam-se, por fim, obras de literatura colonial portuguesa com obras literárias angolanas emergentes da oralidade, nomeadamente as obras de Óscar Ribas.

Inserindo-se no campo teórico da história cultural ou dos imaginários – encarando a cultura como um conjunto de significados e símbolos construídos pelos homens para explicar o mundo, que pressupõe sempre um posicionamento inevitavelmente valorativo –, estes ensaios de Alberto Oliveira Pinto propõem ao leitor um questionamento sobre o facto colonial, encarado não apenas da perspectiva da memória e da história, mas também das realidades contemporâneas que se convencionaram designar por “pós-coloniais” ou, mais concretamente, por neo-coloniais."

in: Angola e as Retóricas Coloniais (2012) Ed. Mercado de Letras



(*) Alberto Oliveira Pinto (Bibliografia gentilmente cedida pelo autor)

Alberto [Manuel Duarte de] Oliveira Pinto nasceu em Luanda a 8 de Janeiro de 1962. Licenciou-se em Direito pela Universidade Católica Portuguesa em 1986. É Doutorado e Mestre em História de África pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde colaborou como docente no Departamento de História. Leccionou igualmente noutras universidades portuguesas.

Como ficcionista publicou os seguintes romances: Eu à sombra da figueira da Índia (Porto, Afrontamento, 1990), Concerto na nespereira (Porto, Afrontamento, 1991), O Saco dos Livros (Porto, Afrontamento, 1991), A Família dos Paladinos (Porto, Edinter, 1991, juvenil), A Canção de Rolando (Porto, Edinter, 1991, adaptação), O Senhor de Mompenedo (Porto, Afrontamento, 1992), O Onagro de Sintra (Porto, Afrontamento, 1994), A Sorte e a Desdita de José Policarpo (Lisboa, Bertrand, 1995), As Filhas do Olho de Vidro (Porto, Civilização, 1996, juvenil), Mazanga (Luanda, INAL, 1998; Lisboa, Caminho 1999) e Travessa do Rosário (Luanda, Chá de Caxinde, 2001). Tem colaboração dispersa em revistas e jornais angolanos, portugueses e brasileiros e está representado em várias antologias.

No ensaio é autor dos livros A Oralidade no Romance Histórico Angolano Moderno (Lisboa, Novo Imbondeiro, 2003), Domingos José Franque e a história oral das linhagens de Cabinda (Lisboa, Novo Imbondeiro, 2004), Cabinda e as construções da sua história (1783-1887) (Lisboa, Dinalivro, 2006; Luanda, Chá de Caxinde, 2006) e Representações Literárias Coloniais de Angola, dos Angolanos e suas Culturas (1924-1939) (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2012), Angola e as Retóricas Coloniais (2012), além de diversos estudos publicados em revistas da especialidade angolanas, portuguesas e brasileiras.


        

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Projetos e nova sala para o IILP - Instituto Internacional da Língua Portuguesa





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Encerrou-se na sexta -feira, dia 28 de setembro de 2012 a I Reunião Técnica para a Elaboração do Portal do Professor, uma plataforma multilateral que irá disponibilizar materiais e recursos didáticos para o ensino de PLE (Português como Língua Estrangeira) e PL2 (Português como Língua Segunda), conforme previsto no Plano de Ação de Brasília e que dará apoio aos docentes da língua portuguesa de todo o mundo.



A Reunião Técnica, que ocorreu nos dias 27 e 28, foi precedida de uma reunião preparatória, de 24 a 26 do mesmo mês, e que mobilizou a Equipe Assessora Central do Projeto, composta das Professoras Doutoras Edleise Mendes (UFBA), Maria José Grosso (UL), Matilde Scaramucci (Unicamp), Marisa Mendonça (UP) e Viviane Baggio (UEL). A reunião preparatória preparou as minutas do Manual de Procedimentos do Portal, bem como do Cronograma de Ação até a finalização do projeto, em setembro de 2013.

O evento foi finalizado no auditório do Palácio Penafiel com a apresentação dos resultados da reunião e, paralelamente, o lançamento do Manual Técnico para a Constituição dos Corpora dos Vocabulários Ortográficos Nacionais (VON) doProjeto VOC – Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa apresentado pela Equipe Central do VOC, Professores Margarita Correia e José Pedro Ferreira, ambos do ILTEC.

No mesmo dia, foi inaugurada a sala do IILP no Palácio Penafiel. Segundo Gilvan Müller de Oliveira, Diretor do IILP, existe a proposta de um escritório no Brasil e outro em Timor-Leste, o que certamente propiciará uma interatividade maior e uma verdadeira internacionalização do Instituto.

Na ocasião, o Diretor do IILP falou sobre as dificuldades financeiras que o Instituto vem atravessando, “já que este ano apenas dois dos oito países membros depositaram as suas contribuições obrigatórias”, disse ele. Ainda, acrescentou que o Instituto tem realizado “convênios de cooperação técnica com entidades que, embora possam também não ter recursos líquidos, têm um capital humano extraordinário no campo da lusofonia”.

Ver Blog do IILP aqui.

domingo, 30 de setembro de 2012

REPRESENTAÇÕES COLONIAIS: HISTÓRIA E LITERATURA ANGOLA, OS ANGOLANOS E SUAS CULTURAS (1924-1939)


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TESE DE DOUTORAMENTO EM HISTÓRIA DE ÁFRICA (FLUL)
de Alberto Oliveira Pinto*

RESUMO
Este estudo organiza-se em torno das representações culturais que Angola e os angolanos assumiram no discurso escrito colonial português, entre 1924 e 1939. Se a perspectiva em que nos situamos se integra no campo teórico da história das mentalidades ou dos imaginários, pretendemos igualmente pôr em evidência a importância da literatura colonial que, sendo, como outros domínios de expressão artística, um registo da memória social, constitui uma fonte incontornável da história de Angola.
Associam-se dois factos de natureza diferente que tiveram, contudo, um papel fundamental na consolidação do imaginário português a respeito das realidades africanas : a criação da Agência Geral das Colónias, em 1924, e a organização do Concurso de Literatura Colonial, em 1926, cujo objectivo era o de chamar a atenção dos escritores para as colónias, contribuindo assim para reforçar e difundir as imagens do africano, em consonância com o projecto colonial português.
Estudam-se, como fontes primárias, obras literárias publicadas antes do deflagrar da IIª Guerra Mundial, de entre as quais, mercê do vigor ideológico nelas contido, se destacam as de carácter narrativo, ou sejam, os contos e os romances. A selecção de tais obras só pode ser pertinente, do ponto de vista da evolução da política colonial portuguesa, se tiver em conta a publicação, em 1930, do Acto Colonial, texto fundamental do colonialismo português. Três das obras seleccionadas, de Hipólito Raposo (1926), de Emílio de San Bruno (1929) e de Henrique Galvão (1929), são, portanto, anteriores ao Acto Colonial, sendo as outras quatro, de Guilherme d’Ayala Monteiro (1930), de Henrique Galvão (1933 e 1936) e de Luís Figueira (1933), posteriores a esse marcador cronológico que é sobretudo político. Todas evidenciam, pelo recurso a noções « científicas » de conteúdo racista, uma evolução que reforça a desvalorização do Outro.


Ver Tese integral aqui.

 *Professor Doutor ( Currículo em breve)







quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mais um autor... Alberto Oliveira Pinto

 Imagem daqui.

Alberto Oliveira Pinto é um dos fundadores e dinamizadores do Centro de Estudos Multiculturais, onde, para além das suas aulas, tem orientado pesquisas sobre temática africana.
  
Ver Centro de Estudos Multiculturais (CEM) aqui.

É membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE) e da União dos Escritores Angolanos (UEA).

Ver Associação Portuguesa de Escritores aqui  

Ver  União dos Escritores Angolanos aqui.


Ver autor em www.angolanos.net: Literatura e Artes Plásticas Angolanas aqui.
Ver autor no Projecto Vercial aqui.

Associação "Chá de Caxinde"


Em 1989, Luanda vivia num vazio cultural e sob o peso do recolher obrigatório resultante da guerra em que Angola estava mergulhada. A Associação Chá de Caxinde foi criada nesse ano como resposta a este cenário.
Chá de Caxinde é não só um nome incontornável na cultura angolana mas também local obrigatório para quem quer respirar e fazer parte do que de melhor se faz em Luanda nos mais variados domínios das artes, do debate e da reflexão.
Hoje, recorda Jacques dos Santos, 68 anos, fundador da Associação, Luanda é uma cidade com múltiplas ofertas culturais. Mas não era assim em 1989, quando, no dia 28 de Janeiro desse ano, reuniu mais oito pessoas, a quem chama de “grupo percursor”, e lançou as bases daquilo que é hoje o Chá de Caxinde.
Os primeiros tempos não foram fáceis. A sociedade de Luanda olhava com alguma desconfiança para uma Associação que se propunha abrir as mentes e estimular os “espíritos” através da cultura. O país estava em guerra. A Associação só conseguiu impor-se junto da sociedade quando partiu para a organização de eventos culturais, que abarcavam a música, a dança ou a literatura. Foi assim que mais gente se juntou à volta desta ideia. “Servir uma feijoada para cerca de trezentas pessoas no Karl Marx, misturando farra com capoeira e poesia. Introduzir modificações substanciais no desfile do Carnaval de Luanda. Realizar o 1º Encontro de Escritores Angolanos na cidade do Lubango. Visitar, no tempo e nas condições em que o fizemos, as ruínas de Massangano. Tudo isto eram actividades que não estavam nas nossas perspectivas iniciais mais optimistas”, confessa Jacques dos Santos.
Surge depois o símbolo da Associação, criado pelo escritor Luandino Vieira, que ganhou um concurso realizado para este efeito. Veio depois a procura das instalações próprias, uma prioridade do primeiro executivo que tomou posse em 26 de Maio de 1990. “Um responsável amigo cedeu–nos umas instalações que nos serviam na perfeição. Depois do papel passado, para surpresa nossa, foi entregue a um cidadão estrangeiro, por ordem e mando de um Comissário Provincial-adjunto de Luanda, sem a gentileza de um aviso ou explicação. Tentámos outros sítios como o velho Atlantic Palace Hotel, o antigo Flamingo, à Praia do Bispo, e as instalações da antiga Estação da Cidade Alta, à Maianga.
Foi então que, com o indispensável apoio do Ministério da Cultura, se retirou dos escombros o velho “Nacional Cine Teatro”, e nos foi cedido este espaço emblemático onde hoje está instalada a nossa sede.
A 28 de Janeiro de 1990, foi assinada a Acta de Proclamação da Associação, subscrita por 100 pessoas”, lembra Jacques dos Santos, que é escritor e foi deputado do MPLA.
Actualmente a Associação possui cerca de 700 associados das mais diversas profissões e grupos sociais que têm em comum a vontade de resgatar, promover, incentivar e divulgar a cultura angolana.
Como já se disse, foi o escritor Pepetela o criador da frase que serve de azimute ao Chá de Caxinde, “Unir pela Cultura”, e também um outro escritor, Luandino Vieira, quem desenhou a “bandeira” da da Associação.
Texto retirado daqui.  

Chá de Caxinde: 
Capim-limão, também conhecido por Capim santo ou Capim cidreira (Cymbopogon citratus, é uma planta herbácea da família das gramíneas, nativa das regiões tropicais da Ásia, amplamente cultivada na Índia. Cresce numa moita de rebentos (planta cespitosa), propagando-se por estolhos (dizendo-se, por isso, estolonífera), os quais apresentam folhas amplexicaules, linear-lanceoladas. As suas inflorescências são constituídas por panículas amareladas. É também conhecido pelos nomes de capim-cidreira, erva-cidreira, capim-cidrão, capim-de-cheiro, e chá de caxinde (em Angola).
Planta medicinal, usada em medicina popular, sendo, para esse efeito, utilizadas as folhas que, em  infusão, têm propriedades febrífugas, sudoríficas, analgésicas, calmantes, anti-depressivas, diuréticas e expectorantes, além de ser bactericida, hepatoprotectora, antiespasmódica, estimulante da circulação periférica e estimulante estomacal e lácteo. Os principais compostos químicos a que se devem estas propriedades são o citral e o geraniol, que lhe conferem uma fragrância intensa e agradável que com que seu uso seja difundido em preparações cosméticas e em produtos de higiene pessoal.
Texto retirado daqui

"Olhares sobre Angola"

Tive o privilégio de assistir.
Obrigada Rogério.

A BPO Advogados, em parceria com a Associação Cultural Chá de Caxinde Portugal, o Espaço Nimas e a Xiiks, promove um evento dedicado ao cinema angolano intitulado “Olhares sobre Angola”. Na próxima quarta e quinta-feira, 20 e 21 de junho, o Espaço Nimas é o palco de uma visita a Angola pelo olhar de alguns dos mais importantes realizadores angolanos. A sócia da BPO Advogados Teresa Boino explicou ao Advocatus em que consiste este encontro que pretende “unir pela cultura”.
Ver texto completo aqui. 
Ver notícia no Sol aqui.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Diversidade Linguística na Escola Portuguesa

Imagem daqui
 
O projecto, denominado Diversidade Linguística na Escola Portuguesa, foi
desenvolvido por investigadores do Instituto de Linguística Teórica e Computacional
(ILTEC) em colaboração com o Ministério da Educação (DGIDC) e com financiamento
e apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Tratando-se de um projecto-piloto, incidiu
nas escolas do primeiro e segundo ciclos do Ensino Básico da Área Metropolitana de
Lisboa e foi realizado entre 2003 e 2007.

O relatório está dividido em cinco partes:

A primeira parte descreve um levantamento das línguas faladas pelos alunos das
escolas de Ensino Básico da Área Metropolitana de Lisboa, levado a cabo no primeiro
ano do projecto.

A segunda parte descreve a recolha e a análise de um corpus de produções orais e
escritas de alunos de língua materna ucraniana, cabo-verdiana, guzerate e chinesa
(falantes de mandarim) do quarto e do sexto anos do Ensino Básico, realizado com o
objectivo de avaliar o seu grau de proficiência linguística em Português e de identificar
áreas da língua em que tinham mais dificuldades. Após apresentar os principais
resultados da análise, o relatório refere as estratégias pedagógicas e as actividades
didácticas para o ensino do Português como língua não materna desenvolvidas pela
equipa do projecto, de acordo com esses resultados.

A terceira parte apresenta as actividades desenvolvidas pela equipa do projecto no
sentido de valorizar as línguas maternas dos alunos.

A quarta parte descreve os encontros que a equipa do projecto promoveu sobre a
diversidade linguística junto da comunidade científica e educativa.

A quinta parte contém uma descrição das estratégias de divulgação dos resultados
da investigação, nomeadamente os dois CD-ROM do projecto, as acções de formação
e as apresentações públicas.

Ver o texto completo aqui.

Ver ainda aqui aqui: Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa
Dulce Pereira
FLUL / ILTEC

A diversidade étnico-cultural na escola: a educação intercultural no ensino básico*




*Dissertação de Mestrado em Relações Interculturais apresentada à Universidade Aberta em 2006 de
Maria Judite Ferreira Neves Pontes


Resumo
A grande diversidade étnico-cultural presente na sociedade Portuguesa actual, com evidentes reflexos na nossa escola, constituiu o motivo para a formulação da questão de partida “Perante a diversidade étnico – cultural existente na escola, como são vividas as relações interétnicas e que acções e estratégias são implementadas, de modo a responder às necessidades impostas por esta realidade?"

Ao longo da Fundamentação Teórica foram abordados temas como as migrações, a diversidade étnico-cultural, a integração das minorias, a educação intercultural e a formação dos professores. A diversidade étnica na escola e a integração, social e escolar, das minorias étnicas, quer por parte da escola/professores, quer por parte do Ministério da Educação, foi o centro deste estudo.

Em relação à metodologia, começámos a investigação deste estudo com entrevistas exploratórias, a alunos e professores dos três ciclos do Ensino Básico, que nos permitiram recolher informação sobre as temáticas referidas.
A análise de conteúdo feita às entrevistas evidenciou os indicadores necessários à elaboração dos questionários.
Os questionários foram aplicados em duas escolas, a todos os professores dessas escolas e a três turmas de cada ciclo do Ensino Básico.
Após a análise feita aos resultados obtidos através dos questionários tiraram-se algumas conclusões, quer em relação aos alunos quer em relação aos professores.

 Em relação aos alunos, podemos dizer que não foram detectados problemas no relacionamento interétnico. Estes manifestaram vontade de conhecer mais sobre as diferentes culturas étnicas, fazer mais actividades multiculturais na escola.

Em relação aos professores, os dados obtidos revelam que os professores enfrentam algumas dificuldades na sua vida profissional. Têm dificuldades em trabalhar com a diversidade étnico-cultural presente na escola e sentem que o Ministério da Educação não tem tratado suficientemente esta questão. Na Formação Inicial, os professores não são preparados para a multiculturalidade que temos hoje nas escolas e a Formação Contínua não tem respondido às necessidades dos professores nesta área.

No geral, quer pelos dados obtidos quer pelo contacto com as pessoas aquando da aplicação dos instrumentos de pesquisa, as questões da multiculturalidade, da Educação Intercultural, iniciativas realizadas ou projectadas pelo Ministério da Educação, nesta área, não são do conhecimento da maioria da população escolar.

Ver texto completo aqui.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um cheirinho de Gramática...

 Imagem daqui.

Este texto foi integralmente retirado daqui
(No entanto, no texto que aqui se apresenta, foram efectuados destaques e adicionadas ligações consideradas interessantes pela autora deste blog)

A gramática do cérebro

Por Fabíola Musarra

Há décadas, a linguagem intriga cientistas no mundo todo: afinal, em qual momento da evolução humana começamos a falar? Como aprendemos? Qual foi o mecanismo biológico que nos possibilitou fazer isso? Atualmente, sabe-se que o ato de falar é ligado à mente, mas recentes descobertas comprovam que a língua nasce da nossa habilidade motora

Shutterstock
Todas as línguas se baseiam num tripé: a fonologia (a pronúncia das palavras), a semântica (consiste em dar sentidos a esses sons e aos seus equivalentes símbolos escritos) e a sintaxe, graças à qual, com as regras gramaticais, se constroem frases complexas e de sentido completo. Objeto de estudo da linguística, essas áreas também vêm sendo pesquisadas pela neurociência. Os resultados obtidos por esse campo da ciência são fascinantes: interligam a capacidade de falar (e de pensar) com a nossa capacidade musical e motora.

Por trás disso tudo está uma descoberta que vem revolucionando a compreensão do cérebro: os neurônios-espelho, células cerebrais que são ativadas quando se executa uma ação (pegar um objeto, por exemplo) ou quando se vê alguém a realizando. “Essa classe especial de células foi descoberta em 1992 na área F5 do cérebro dos macacos. Para total surpresa dos neurocientistas, na época foi comprovado que essa região do cérebro deles abriga os neurônios-espelho, que disparam quando o animal vê ou ouve uma ação e quando a executa por conta própria”, explica o neurofisiologista Luciano Fadiga, docente em Ferrara, na Itália.

Ao lado dos neurocientistas Giacomo Rizzolatti, Leonardo Fogassi e Vittorio Gallese, Fadiga é um dos integrantes da equipe que descobriu esse fenômeno. Mas, embora a F5 corresponda à área de Broca no cérebro humano (responsável pelo processamento da linguagem, produção da fala e compreensão), o neurofisiologista observa que a semelhança dos humanos com os símios termina aí. “Os homens podem lidar com dezenas de milhares de palavras e símbolos, enquanto os macacos usam no máximo 40 sinais para comunicar um perigo, por exemplo.”

Posteriormente, os pesquisadores detectaram que o cérebro humano tem múltiplos sistemas de neurônios-espelho que são capazes não só de executar e compreender as ações dos outros, mas os seus propósitos, o significado social do comportamento deles e suas emoções. Situadas em diversas zonas do cérebro, essas células disparam em resposta a cadeias de ações relacionadas a intenções. Algumas são acionadas quando a pessoa estende a mão para pegar um travesseiro ou observa alguém pegar um. Outras disparam quando a pessoa coloca o travesseiro sobre a cama e assim por diante.

“Quando você me vê executar uma ação, você automaticamente simula a ação no seu cérebro”, explica Marco Iacoboni, neurocientista da Universidade da Califórnia, Los Angeles, nos Estados Unidos. “Circuitos cerebrais o inibem de se mover, mas você entende minhas ações porque tem no seu cérebro um padrão dessa ação baseado em seus próprios movimentos.”

Quanto à linguagem, ela é totalmente baseada em neurônios-espelho, conforme afirma o neurocientista Michael Arbib, da Universidade do Sul da Califórnia (EUA). Segundo ele, esse sistema, encontrado na área frontal do cérebro, contém circuitos superpostos para a língua falada e a linguagem dos sinais. Em um artigo publicado na revista Trends in Neurosciences, Arbib descreve como gestos de mão e movimentos complexos da língua e dos lábios usados na formação de sentenças fazem uso do mesmo mecanismo.

Ponto de partida
O ponto de partida da linguagem são as palavras. São exatamente delas que advêm algumas intrigantes indagações. Por exemplo, por que nós podemos interpretar e compreender os sons usados na língua? O que nos permite sempre reconhecer a palavra “mamãe”, independentemente de quem a pronuncie? Realizadas em diferentes países do mundo, várias pesquisas já comprovaram a “universalidade” dessa palavra.

De seu lado, você pode arriscar um palpite dizendo que isso é possível graças às expressões faciais assumidas por quem pronuncia a palavra “mamãe” – o brilho nos olhos e o tom de voz, por exemplo. Talvez até mesmo atribua o fato aos avançados recursos da ciência e da informática. Juntas, hoje elas já conseguem fazer a leitura ótica dos olhos humanos, comparando e – sobretudo – identificando possíveis fraudes de pessoas que tentam embarcar nos aeroportos com passaportes falsos.

Embora essa última hipótese tenha lógica – afinal, estamos em plena era da informática, na qual quase tudo que se idealiza é possível concretizar –, o computador não conseguiu aprender a reconhecer nem tampouco estabelecer a característica universal existente na palavra “mamãe”. Ainda agora, muitos cientistas vêm tentando descobrir como esse fenômeno da linguagem acontece, mas um dos pioneiros a empregar a tecnologia para tentar desvendar esse mistério foi o psicólogo norte-americano Alvin Liberman.

Nos anos 50, ele projetou um sistema de reconhecimento automático da voz (uma espécie de espectrograma), registrando as frequências sonoras que emitimos quando pronunciamos uma palavra. Como cada pessoa possui um timbre de voz próprio, o equipamento não conseguiu identificar a característica universal que a palavra “mamãe” poderia ter. Liberman, então, intuiu que essa característica não deveria ser encontrada nos sons emitidos, mas nos movimentos produzidos por aqueles sons.

O neurofisiólogo Luciano Fadiga atualmente participa do projeto iCub, um trabalho de vanguarda desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Gênova (Itália). Ali está sendo implementada a pesquisa da aplicação de modelos cognitivos em neurociências, com a “criação” de robôs humanoides. Com idade correspondente a 4 anos, o iCub é um “robô criança” que pode se adaptar e aprender com seus erros. Futuramente, com o aperfeiçoamento de seu hardware, chamado de bodywear, e software (mindware, como a tecnologia é denominada), os cientistas do instituto italiano esperam criar androides de inteligência comparável à dos homens.
A dedução de Liberman não estava errada. Em 2002, sua tese foi comprovada com a estimulação magnética transcraniana, em pesquisa desenvolvida por um grupo de cientistas, entre eles Fadiga e Rizzolatti. Com essa técnica foi possível fotografar as “reações” do córtex motor. Os pesquisadores perceberam que quando alguém escuta o fonema “r”, independentemente de quem o pronuncie, a área do cérebro que é responsável pela pronúncia dessa letra fica mais ativa.“Com isso, conseguimos fornecer uma prova da existência de um fator invariante: o movimento que todos nós fazemos para emitir sons”, diz Fadiga.

Não é só. O neurofisiólogo afirma também ser possível distinguir, ainda no cérebro, os sons labiais (“ba” ou “pa”) dos dentais (“ta” e “da”), que são obtidos a partir de vários movimentos. Essa habilidade agora também pode ser usada a partir de um computador, que, para compreender um discurso, pode aprender a “funcionar” como um cérebro humano.

Fadiga conduziu uma pesquisa nessa direção em parceria com Giorgio Metta e Giulio Sandini, do Instituto de Tecnologia de Gênova, na Itália. Os três desenvolveram o iCub (www.iit.it/en/rbcs/labs/cognitive-humanoids-lab.html, um “robô criança” capaz de aprender como os humanos. Com 94 cm e pesando 23 quilos, o androide foi projetado para aprender através de experiências e interage com o ambiente por intermédio de videocâmara, sensores e microfone.“Como foi demonstrado por um grupo liderado por Jacques Mehler, da Escola Internacional Superior de Estudos Avançados (Sissa, na sigla em italiano) de Trieste, as crianças começam a distinguir a linguagem humana desde o nascimento. Nos primeiros anos de vida, exercitam-se fazendo balbucios, a emissão de sons não articulados. Quando começam a falar, já exploraram sua capacidade motora – todos os movimentos possíveis com as partes do corpo envolvidas na produção dos sons.”

Shutterstock As áreas cerebrais que controlam a linguagem (em branco na imagem): à esquerda, a área de Broca, e à direita, a de Wernicke. A linguagem, porém, também atinge as áreas do córtex auditivo, visual e motor. Por isso, é bastante provável que esta última seja a responsável pela capacidade de o ser humano falar.

As conexões cerebrais
Em seus experimentos, Fadiga e equipe também analisaram a semântica, o significado que atribuímos às palavras. “Quando escutamos uma palavra”, diz Fadiga, “são ativadas diversas conexões cerebrais.” Quando nos deparamos com palavras como “redondo” ou “vermelho”, por exemplo, em nosso cérebro é ativada a área dos temporais inferiores, vizinha ao córtex visual. Já em palavras como “trufa” e “canela” é ativada a olfativa. Com palavras que descrevem ação, como “lamber” e “pontapé”, e também com expressões abstratas, como “compreender o conceito” (mas não para ações não humanas como “abanar o rabo”), são ativadas as áreas motoras e prémotoras correspondentes às ações nominais: as pernas para caminhar, as mãos para pegar e assim por diante.

Segundo Fadiga, esses resultados se devem, sobretudo, aos estudos de Friedemann Pulvermüller, neurocientista da universidade inglesa de Cambridge. Também são confirmados por pesquisas com pacientes. As pessoas que sofrem de mal de Parkinson, que se cansam ao se locomover, também têm dificuldades para compreender os verbos que descrevem movimento.” Ao contrário, se em um paciente saudável for requisitada a área motora com auxílio da estimulação magnética transcraniana, aumenta também a velocidade com que ela reconhece as palavras que descrevem as ações.

Khalil Mazraawi - Roger Viollet/AFP
Noam Chomsky (à esquerda) construiu a Teoria da Gramática Universal, segundo a qual todos os homens já nascem equipados com um “software” linguístico em seu cérebro, sendo dotados de alguns princípios gramaticais comuns a todos os idiomas. Para conceber sua teoria, ele se baseou em teses do inglês Roger Bacon (à direita), considerado o “pai” do empirismo moderno.

Discurso musical
Promissores também são os estudos com a sintaxe, a capacidade que temos de construir frases complexas e com sentido completo. Com técnicas da neuroimagem (que faz uso de equipamentos e ferramentas, como a ressonância magnética e outros que visualizam a atividade do cérebro) se observa que as áreas cruciais relacionadas na elaboração da linguagem são a de Broca e a de Wernicke. Para dar um exemplo: as pessoas que subitamente sofrem lesões na área de Broca são afetadas por uma forma de afasia que as impede de se expressar de um modo gramaticalmente correto.

Alguns neurocientistas asseguram que a nossa capacidade sintática não se aplica apenas à linguagem, mas também à música e ao movimento. Segundo Fadiga, também na música é possível construir um discurso. “Pode-se partir de uma melodia que pode sofrer uma evolução e, em seu interior, se introduzir uma melodia diferente, assim como acontece na linguagem, na qual posso introduzir frases subordinadas à frase principal.”

Mas qual é a relação entre a sintaxe e os movimentos? “Acho que ela está nas sequências da vida cotidiana”, explica Fadiga. “Como quando estamos cozinhando e, às vezes, paramos para tomar um copo de água.” No ser humano, a capacidade de planejar ações complexas é muito superior à dos nossos antepassados. “Por isso, é errado definir o homem como um mero macaco falante.” Isso não quer dizer que os macacos não tenham tido um papel nesse processo.

A chave de tudo é possivelmente a “gramática das ações”, iniciada com os macacos, com a área cerebral F5 que controla os movimentos. Com o tempo, o homem teria desenvolvido a capacidade de organizar ações mais refinadas, como a manipulação de objetos com uma estrutura hierárquica (como para fazer uma espada, aprendeu primeiro a afiar um espeto). E, usando a mesma estrutura cerebral (a área F5 ou qualquer coisa similar, que gradativamente se transformou na área de Broca), teria desenvolvido a capacidade de se comunicar com palavras.

Software linguístico
Partindo de teses desenvolvidas pelo inglês Roger Bacon (1214-1294), o linguista, professor de linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), filósofo e ativista político Noam Chomsky construiu a Teoria da Gramática Universal, segundo a qual todos humanos já nascem equipados com um “software” linguístico em seus cérebros, sendo dotados de alguns princípios gramaticais comuns a todos os idiomas.

Segundo Chomsky, todas as crianças aprendem a língua igualmente bem. Por isso, deve haver uma estrutura básica comum a todas as línguas que de alguma forma está “impressa” no cérebro humano. Seu argumento tem lógica, já que não há um único povo no planeta que não tenha desenvolvido uma linguagem. Ao contrário da escrita, que foi criada pelos homens e que precisa ser ensinada, basta colocar uma criança em contato com um idioma para que ela o aprenda praticamente sozinha. Daí Chomsky concluir que os homens já nascem com uma capacidade inata para o aprendizado linguístico.

Defensor do inatismo, o cientista cognitivo Steven Pinker endossa a teoria de Chomsky e vai além. Afirma que o instinto da linguagem é uma capacidade exclusiva dos humanos. Todas as tentativas de colocar outros animais, em especial os grandes primatas, para “falar” (por meio de sinais ou de teclados de computador) fracassaram. Para Pinker, os bichos não teriam desenvolvido competência para, a partir de um número limitado de regras, gerar uma quantidade em princípio infinita de sentenças.

Embora seja objeto de polêmicas, a teoria de Chomsky vem ganhando apoio da neurociência. Caso do neurofisiólogo italiano Luciano Fadiga. Para ele, a gramática universal proposta pelo linguista norte-americano poderia ser apenas a motora, dos movimentos. “A capacidade essencial que é comum a todos os homens e que, graças aos neurônios-espelho, possibilitou o desenvolvimento das primeiras formas de comunicação.”
Shutterstock
Os animais também se comunicam. Os macacos vêm aprendendo a se comunicar com o homem por meio da American Sign Language (AMS), a língua americana dos sinais (1). Com sua dança, as abelhas indicam às suas companheiras a presença de néctar ou de pólen (2). O papagaio-cinza-africano (Psittacus erithacus) imita a fala dos humanos com tanta perfeição que se desconfia que entenda o que diz (3). Já os golfinhos “conversam” por meio dos sons. Recentemente, pesquisadores liderados pelo cientista Vladimir Markov publicaram um trabalho anunciando a existência do “golfinhês”, um sistema aberto de linguagem composto de 51 sons de impulsão vocal e 9 tipos de assobios tonais, que comporiam um possível alfabeto próprio da espécie (4). Também os elefantes são conhecidos pela sua capacidade de comunicação com outros indivíduos da espécie mesmo a vários quilômetros de distância emitindo sons de baixa frequência (5).

Texto: fabiola@planetanaweb.com.br