domingo, 20 de junho de 2010

Alfabetização e a pedagogia do empowement político



Antonio Gramsci define a alfabetização como uma prática social que deve estar vinculada a configurações de conhecimento e de poder. Para o autor a alfabetização tem um significado ideológico que pode apresentar empoderamento individual e social e perpetua nas relações de repressão de dominação.

Como ideologia a alfabetização deve ser encarada como construção social que está implícita na história do indivíduo (presente-futuro) nas questões étnicas e políticas que dignifiquem e ampliem as possibilidades de vida e de liberdade humana.

Como movimento social, a alfabetização está presa às condições sociais e políticas necessárias para desenvolver e organizar a comunidade escolar, com valores e práticas democráticas, para dar condições necessárias tornando as pessoas letradas para que tenham voz tanto para formar a própria sociedade como governá-la.

O analfabetismo pelo discurso dominante não é um indicador cultural representada pelo afastamento do pensamento crítico e político emancipador.

É fundamental que se desenvolva um programa para alfabetização como parte de um projecto político com práticas pedagógicas que ofereçam uma linguagem de esperança e de transformação nas políticas da educação de jovens e adultos.

Precisamos para a nossa sociedade de pessoas letradas, e não somente alfabetizadas. Pessoas capazes de interpretar o mundo a sua volta e agir como verdadeiros cidadãos, efectivando a democratização.

As pessoas em geral fazem suas leituras de mundo, como já dizia “Paulo Freire”, e a escola deve levar essas leituras e consideração dentro das salas de aula.

Com isso, mantém-se uma relação de diálogo entre alunos, professores e comunidade escolar. Se os educadores preocuparem-se apenas com a alfabetização pura da leitura de códigos (letras e números) formaremos em nossos alunos, uma sociedade ainda dominada, conformada com a situação política, social e económica do país, deixando assim que as decisões importantes para a vida de todos, sejam tomadas por poucos.

Representando aqui a alfabetização como um afastamento do pensamento crítico e da política emancipadora. Para que aconteça uma real transformação na educação, o pedagógico deve tornar-se mais político, e o político mais pedagógico.
Professores e alunos, segundo “Macedo e Freire”, devem fazer parte do projecto de reconstrução social e política.
A alfabetização como prática social está vinculada ao conhecimento e ao poder. A alfabetização no sentido ideológico apresenta empoderamento individual e social que perpetua nas relações de repressão e dominação. Está implícita na história do indivíduo (presente, futuro), nas questões étnicas e políticas que dignifiquem e ampliem as possibilidades de vida e de liberdade humana.

Freire usou o termo “Empoderamento" no seu sentido "Transformador” dentro da filosofia e da educação. O termo "Empowerment" veio da língua inglesa significando "dar poder” (autonomia) a alguém para realizar uma tarefa sem precisar autorização. Para Freire, a pessoa, grupo ou instituição empoderada é aquela que realiza, por si mesma, as mudanças que a levam a evoluir e a se fortalecer. Empoderamento, portanto, difere da simples construção das habilidades e competências, saber comummente associado à escola formal. A alfabetização se alicerça numa reflexão crítica sobre o capital cultural dos oprimidos. A alfabetização se torna um veículo pelo qual os oprimidos são equipados com instrumentos necessários apropriando-se de sua história, de sua cultura e de suas práticas linguísticas. É, pois, um modo de tornar os oprimidos capazes de reivindicar aquelas experiências históricas e existenciais que são desvalorizadas na vida quotidiana pela cultura dominante, a fim de que sejam, não só validadas, mas também compreendidas criticamente. Paulo Freire utiliza toda a sua experiência pedagógica o ato da leitura no processo de alfabetização das camadas populares. Para ele a leitura do mundo precede a leitura da palavra, pois antes da aquisição do código da leitura e da escrita, o ser humano já descodifica os códigos do mundo (letramento), aprendendo as relações entre os objectos e a razão de ser dos mesmos é que vai se constituindo como sujeito letrado.

Na educação de adultos o principal é a experiência do indivíduo. Quando este chega a escola para uma escolarização, já possui experiência profissional, valores, conhecimentos práticos e tem claramente formada a ideia do que precisa, na maioria das vezes é manter seu emprego para sobreviver. Estas características são gerais de todos os alunos sejam jovens e adultos, escolarizados ou não. Estamos lidando com pessoas dedicadas em seus estudos, que valorizam o conhecimento que já possuem, que reconhecem a necessidade da continuidade destes aprendizados, mas com tudo, são os principais responsáveis pela evasão escolar, abandonam os cursos antes mesmo da metade. A era da informação chegou as mais simples profissões, actividades antes manuais hoje são executadas por pessoas treinadas e informatizadas. Para manter o emprego, a constante actualização e especialização são obrigatórias, por isso cada vez mais cursos de curta duração, técnicos, tecnólogos e especialização são ofertados por inúmeras instituições de ensino. As dificuldades para estes profissionais começam quando encontram cursos que não valorizam as experiências que eles já possuem. A dificuldade de retomar os estudos é grande, e se não forem trabalhadas novas formas de ensino específicas para este público, serão cada vez maiores.

Os novos programas de alfabetização devem fundamentar-se amplamente na ideia de alfabetização emancipadora, segundo a qual a alfabetização é encarada como um dos veículos mais importantes pelos quais o povo"oprimido" é capaz de participar da transformação sócio-histórica de sua sociedade. Dessa perspectiva, os programas de alfabetização não devem estar ligados apenas à aprendizagem mecânica de habilidade de leitura, mas, adicionalmente, a uma compreensão crítica das metas mais gerais da reconstrução nacional. Desse modo, o desenvolvimento, pelo leitor, de uma compreensão crítica do texto e do contexto sócio-histórico a que ele se refere torna-se factor importante para uma ideia progressista de alfabetização. Neste caso, o ato de aprender a ler e escrever é um ato criativo que implica uma compreensão crítica da realidade. O conhecimento de um conhecimento anterior, obtido pelos educandos como resultado da análise da práxis em seu contexto social, abre para eles a possibilidade de um novo conhecimento. O novo conhecimento revela a razão de ser que se encontra por detrás dos fatos. Desse modo, deixa de existir qualquer separação entre pensamento-linguagem e realidade objectiva. A leitura de um texto exige agora uma leitura dentro do contexto social a que ele se refere.
No sentido mais amplo, a alfabetização é analisada como instrumento de reprodução das formações sociais existentes, ou como um conjunto de práticas culturais que promovam a mudança democrática e emancipadora.


“A educação de jovens e adultos não é uma questão de solidariedade. È uma questão de direito” Moacir Gadoti
Revista Pátio /Janeiro 2005.
Referencias bibliográficas:
GIROUX, Henry. Alfabetização e a pedagogia do empowerment político. In: FREIRE, Paulo e MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura da palavra, leitura do mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 1-27.
Revista Pátio /Janeiro 2005.

1 comentário:

  1. http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=21633
    Este é o link para compreender o significado de "empoderamento" mas posso deixar aqui: "(...)sabe-se que a palavra poderia ser substituída por obtenção ou reforço de poder."

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